MEDITAÇÃO BUDISTA

Silvia Rêgo: Embaixadora Planetária, Terapeuta Holística, Ufologa, Astronoma Técnica e Consultora Espiritual.

A Essência da Meditação Budista A Prática da Recordação

A nossa mente com freqüência se distrai numa truncada cadeia de idéias, lembranças, fantasias, decepções, medos e outros pensamentos. Tendemos a correr atrás dos nossos desejos, caprichos e impulsos momentâneos sem nos ater às coisas que são importantes de verdade. Nessa busca desenfreada de objetivos ilusórios, nos tornamos quase sempre vítimas da decepção, do engano, da frustração.
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O Budismo, como toda Tradição, se propõe a religar o indivíduo à Verdade da qual ele se perdeu. E, ao longo do tempo, a meditação foi adotada pelos praticantes dessa doutrina como um eficiente instrumento para reconstruir essa ponte de ligação entre o Homem e a Verdade. Nesse caminho, alguns foram bem-sucedidos e outros tantos se dispersaram. Os bem-sucedidos foram aqueles que encontraram um "algo mais", que deu um novo sentido é sua existência. E esse "algo mais" com que os perseverantes tiveram a chance de se encontrar é simplesmente o Incriado, a única Verdade eterna, o nosso Ser real, não-ilusório. Encontrá-lo é libertar-se do ciclo de reencarnações, é ultrapassar os limites dos sentidos, é vencer os limites da matéria.
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Para alcançar esse estado de graça suprema pela prática de meditação, o primeiro passo é interromper completamente o ciclo de pensamentos, idéias e palavras que ocupam nossa mente, distraindo-a de seu objetivo primordial. A prática de recordação é um bom meio para isso. Mas a recordação, nesse caso, não é relembrar o passado, e sim manter a mente no presente, naquilo que "é" (pois só "é" real aquilo que existe no momento presente). Buda disse:
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"Não corras atrás do passado
,nem busques pelo futuro;
o passado se foie o futuro ainda não veio.
Observe, porém, com clareza, neste
exato instante, aquilo que existe agora,
e então você vai descobrir e vivenciar
um estado mental silencioso e
imóvel."
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É este o princípio da disciplina mental, e a "lembrança" de assim proceder é a recordação. Sem que adotemos essa postura, um turbilhão de pensamentos volta a se apossar da nossa razão, impedindo-nos de ver com clareza, de ter paz de espírito. Há uma frase zen que diz: "A mente insana não pára; se ela parar, ocorre a Iluminação".
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Assim, recordação é a prática de fixar a atenção com total consciência no presente, no aqui e agora. À medida em que um fato, um pensamento, um objeto ou uma idéia vêm se alojar na nossa mente, devemos vê-lo tal como ele é, sem julgá-lo, sem apreciá-lo ou depreciá-lo, sem nos apegarmos a ele e sem descartá-lo. Devemos deixar apenas que passe indiferentemente. É este o real significado do "caminho do meio" do Budismo: observar todo e qualquer objeto no momento em que emerge, com uma mente alerta e consciente de si mesma, sem apego ou aversão. Buda definia a recordação e a consciência total como "o ato de ver o surgimento, a presença e a passagem de todas as percepções , sentimentos e idéias".
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Mas, quando tentamos agir assim, freqüentemente somos assaltados por uma onda de inquietações e pensamentos que fatalmente nos levam à distração. A melhor maneira de vencer esse obstáculo é perseverar na prática. Só assim conseguiremos estabilizar o nosso estado mental e abrir as portas da prática de meditação.
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Durante o tempo em que estiver se dedicando à prática de meditação, o aprendiz deverá esforçar- se para levar uma vida simples, o mais desprendida possível dos prazeres e dos bens materiais. Isso fará com que a mente tenha menos elementos com os quais se "distrair'. Da mesma forma, deve-se evitar as conversas, as leituras e os passeios desnecessários.
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Ao longo das práticas, percebemos que cada vez necessitamos de menos horas de sono. Isso acontece porque o nosso cérebro direciona uma quantidade maior de oxigênio para o sangue. os mosteiros orientais, os praticantes de meditação chegam a ficar semanas em meditação ininterrupta, sem dormir, e sem que com isso sintam cansaço ou outros efeitos desagradáveis.
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Observadas as regras preliminares, você poderá dar início aos exercícios básicos de respiração. Para isso, sente-se e fixe a atenção na maneira como o ar entra, permanece e sai. Como o ato de respirar é algo que acontece naturalmente, sem exigir uma atenção especial, o fato de se começar a atentar para isso chama a consciência do indivíduo para o aqui e agora. A posição ideal para se sentar é a posição de lótus (com as pemas cruzadas à frente do corpo e os pés colocados sobre as coxas), mas se você não estiver acostumado e isso Ihe causar incômodo, você poderá simplesmente sentar-se com as pemas cruzadas à frente do corpo ou em qualquer outra posição que Ihe permita ficar com a coluna ereta.
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Durante a prática, é indispensável permanecer imóvel, numa postura relaxada porém alerta, com as mãos em concha pousadas uma sobre a outra, a cabeça ereta, os olhos fechados, os músculos da face relaxados. A atenção deve estar totalmente centrada no contato "físico" com o ar, e não no "conceito" de respiração. Também não se deve interferir na respiração. Deixe que ela flua naturalmente, no ritmo normal. Isso, inicialmente, parece difícil, pois o praticante tende mais a "controlar" a respiração do que propriamente a "prestar atenção" nela. Também não é fácil, nos estágios iniciais, perceber claramente esse "contato" do ar. Mas isso não é motivo para se preocupar, pois só a persistência levará ao aprimoramento. Fique atento à sensação de estar respirando, desde o momento em que começa a inspirar até o instante em que pára, e assim alternadamente, desde o momento em que começa a expirar até o término. Ao inspirar, mentalize a palavra "entrando", e ao expirar, a palavra "saindo". Esse procedimento Ihe permitirá verificar se a sua mente está de fato realizando a prática ou se está apenas divagando.
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Você perceberá, no início, que a sua mente tem grande tendência a se dispersar, a se desviar da respiração. Pensamentos e memórias do passado, esperanças e temores em relação ao futuro, imaginações e fantasias, racionalizações teóricas, dúvidas e preocupações com a própria meditação, imagens e formas que surgem diante da mente e estímulos externos que distraem a atenção, ruídos, odores, coceiras, impulsos de se mexer etc. Tudo contribuirá para distrair a mente, levando-a aos pontos secundários de interesse. Não se deixe desmotivar pela dificuldade: se o controle da mente fosse algo fácil e rápido de se conseguir, haveria uma multidão de seres iluminados sobre a face da Terra. Persista: mas persista serenamente. Uma idéia do tipo "eu quero me iluminar, eu quero ser um bom meditador' aponta a presença de um ego absurdo envolvido na questão, um ego que só atrapalharia o processo.
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O meio de lidar com essas distrações é tomar imediatamente, ou pelo menos o quanto antes possível, conhecimento do fato da distração, identificando-o com uma palavra apropriada, como "Pensamento", "Visão", "Audição", "Dor", "Desejo" ou "Impulso". Depois disso, então, a mente deverá retomar à sua atividade própria, ou seja, observar o processo de respiração, registrando-o como "Inspirando" e "Expirando" até a próxima interrupção, que deverá ser tratada exatamente da mesma maneira. 

Se houver algum sentimento de irritação por causa da distração, isso deverá ser registrado como "Irritação", reconhecendo-se com clareza a sensação envolvida e voltando imediatamente ao processo de respiração. Da mesma forma, se houver alguma sensação de prazer (por exemplo: você percebe que conseguiu captar perfeitamente a entrada e a saída de ar e isso Ihe traz satisfação), ela deverá ser registrada como "Prazer", voltando-se imediatamente à respiração. Tome cuidado, ainda, para não ficar "correndo" atrás das sensações, pois isso constituiria um outro fator de distração mental.
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Quando se persiste com paciência na observação dos pensamentos, está havendo meditação. O que não é meditação é, de um lado, ser preguiçoso e ficar sentado em devaneio, e de outro, ficar perturbado e cheio de desespero por achar que a mente nunca ficará quieta.
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Um outro tipo de pensamento que pode ser uma fonte de grande distração são os pensamentos de autocrítica. Coisas do tipo "agora eu não estou pensando em coisa alguma", ou "que coisa terrível, minha mente não pára", são extremamente prejudiciais à prática. Se esses pensamentos vierem atrapalhar a sua prática, não os julgue nem os lamente, pois aí você estaria pensando de novo. Deixe apenas que eles passem. E volte a se concentrar na respiração.
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Movimentos físicos involuntários também deverão ser registrados como "Agitação", "Contração" etc., voltando-se imediatamente à respiração. Dores, sensações de frio ou calor, coceiras e outros tipos de desconforto também tenderão a passar se você simplesmente observá-los de maneira imparcial.
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No começo, porém, não se tem plena consciência desse padrão de comportamento, e quando ocorre uma sensação desagradável há uma reação de aversão a ela, juntamente com um certo desejo de fazer com que ela desapareça. Isso é falta de experiência. O gostar e o não gostar são mecanismos de distração da mente. Quando se olha com uma total e verdadeira isenção de ânimo, a mente se toma indiferente à sensação e esta cessa naturalmente.
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Se, nos estágios iniciais, uma dor ou coceira não desaparecerem mesmo após observações seguidas, tornando-se insuportáveis a tal ponto que você se sinta "forçado" a mudar de posição, registre esse impulso como "Intenção". Ao mudar de posição, registre "Movimento". Ao se tocar, registre 'Tocando". Quando a sensação desagradável passar, registre "Alívio". Em seguida, volte a se ater à respiração.
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Se, numa perda momentânea de consciência, você iniciar um movimento "cego" ou seja, sem "registrar' o movimento, não se recrimine e comece a registrá-lo a partir do exato momento em que atentou para o fato. Esse tipo de falha é normal entre os principiantes, e com decorrer do tempo tenderá a ser corrigida. Depois que registrar o movimento, volte a prestar atenção na respiração.
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Tal como as sensações físicas, os ruídos externos também tem a capacidade de nos distrair e de desviar a nossa atenção. Quando um som interferir na sua prática, registre a mensagem "Ouvindo" e deixe-o passar serenamente. Outro fator comum de distração são as imagens que invadem nossa mente: rostos de pessoas, imagens de lugares variados, cenas do passado. Tudo isso deve ser registrado como "Visões", que também devem passar indiferentemente por nós.
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Essa prática do Exercício Básico de Respiração deve estender se por períodos de uma hora, no início, e ir aumentando gradativamente, conforme você for se aperfeiçoando. Nos intervalos entre as sessões, pratique o exercício básico de caminhada. Essa prática consiste em caminhar num ritmo mais lento que o habitual, concentrando toda a atenção nos movimentos dos pés e das pemas. Durante a caminhada, observe quando começar a erguer um dos pés, e registre a mensagem "Levantando". Quando o movimentar para a frente, registe que o está "Movimentando", e quando o puser novamente no chão, que o está "Assentando". Proceda de mesma forma em relação ao outro pé, e assim sucessivamente. Exatamente como acontece na prática de meditação sentada, você deverá registrar cada distração durante a caminhada, deixá-la "passar" e voltar imediatamente a se concentrar nos movimentos dos pés. Assim, se durante a caminhada você olhar para alguma coisa, registre "Olhando", e volte imediatamente para o seu movimento normal. Quando mudar de direção ou precisar retomar, registre o fato como "Intenção", e ao se virar, como "Esquerda", "Direita" etc.
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Após algum tempo, quando a mente ficar mais calma, você perceberá a existência de um intervalo entre o final de uma expiração e o início de uma nova inspiração. Nessa inesperada pausa do processo, a mente tenderá a divagar. Então aproveite esse intervalo para prestar atenção às sensações do corpo, e registre o fato como "Repousando".
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A Prática da Recordação deve ser parte do nosso dia-a-dia, pois algumas necessidades cotidianas tipo levantar-se pela manhã, tomar banho, alimentar se etc., ainda precisam ser satisfeitas. Assim, em cada ato simples, como responder a uma pergunta, beber um copo d'água ou deitar se para dormir, procure estar absolutamente presente, prestando atenção a tudo, e registrando cada fato, cada movimento. Quando sentir um aroma, registre a mensagem "Cheirando' ; quando ouvir alguma coisa, registre "Ouvindo"; Quando executar uma tarefa no trabalho, registre detalhadamente cada ato seu; ao assinar um documento ou um cheque, registre "Assinando"; e assim sucessivamente.
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Claro que a prática da Recordação durante a vida cotidiana não é fácil, principalmente para quem vive e trabalha numa grande metrópole. Mas o que pode ser mais fácil do que isso? Continuar na eterna roda de nascimento e morte, no ciclo de karmas, preso à teia de mayas (ilusões)? O lema da natureza é "Evolua ou Morra", e o ser que vive sem estar consciente do aqui e agora está morrendo em vida, numa luta constante e inútil contra os fantasmas da ilusão. Mas, quando nos libertamos da escravidão dos sentidos, alcançamos o autodomínio e a auto-realização, e encontramos a paz, a verdade, a plenitude, a alegria e a liberdade.
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A prática da Recordação na vida cotidiana tende a parecer mais complicada do que ela é na realidade, porque não estamos acostumados a ela e porque nem sempre estamos dispostos, de verdade, a renunciar aos nossos apegos. Libertar-nos das irritações, dos desejos, dos pensamentos sensuais, dos impulsos de raiva, é um desafio. Mas, quando aprendemos a controlar a mente e as emoções, vemos tudo com uma clareza muito maior, e isso nos permite até desempenhar melhor as obrigações do dia-a-dia. Meditar não é se desligar da realidade: é estar completamente nela.
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Aprenda a deixar que as coisas sigam seu próprio rumo. Em geral, morremos de medo de deixar que as coisas aconteçam por elas mesmas. Ficamos cuidando o tempo todo de não nos esquecermos de nada, e com essas falsas preocupações a nossa mente se distrai. E é aí que acabamos nos dispersando de verdade. As lembranças, as expectativas, as preocupações e as ansiedades nos esmagam. Acreditar na Lei do Karma, compreender que tudo acontece como tem de acontecer, confiantes de que somos apenas instrumentos, é um estilo de vida muito mais feliz e sereno. Mas é claro que a força dos apegos e a ilusão de que "eu estou agindo", que é a ilusão do Ego, nos empurram para uma vida incômoda e sem disciplina.
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Quanto mais intensa a Prática de Recordação, maior será a nossa paz, e mais livres estaremos das emoções falsas. O discemimento e o bem-estar farão parte do nosso cotidiano. A recordação destrói o Desejo (tanha) e a Ignorância (avijja). Aos poucos, você se tomará um conhecedor da sua própria essência: "isto não me pertence. Nada disto toca meu ser real. E não sou eu quem está realizando essas ações." É a ignorância que faz com que nos identifiquemos com "nossas" ações e coloquemos a responsabilidade por elas sobre os nossos ombros. E é assim que nos prendemos à Roda do Karma.
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A Prática da Recordação nos liberta. Ou melhor: faz com que percebamos que nunca estivemos presos, a não ser em pensamento.


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